Um olhar da psicologia sobre a automutilacao


Quando descobrimos que alguém próximo se corta, queima ou se machuca de alguma forma, uma das primeiras perguntas que surgem é “Porque fulano faz isso?” E outra bem comum é “Será que ele quer chamar atenção?” Pois bem, a resposta costuma ser complexa já que existem muitas razões que levam uma pessoa a praticar a autolesão. Para ajudar aqueles que se deparam ou querem entender esse comportamento, ressalto abaixo alguns pontos importantes sobre o tema, como forma de orientação.

O que é automutilação? Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais e Associação Americana de Psiquiatria (DSM-V) a automutilação também conhecida como cutting, é todo comportamento intencional de autoagressão (cortes, queimaduras, arranhões, beliscões, mordidas etc.), sem ter a intenção consciente de suicídio. Possui um padrão de repetição e ao realizar esse comportamento o indivíduo espera obter algum tipo de alívio ou sentimento positivo.

Quem pratica a automutilação tem a intenção de suicidar-se? Na maioria das vezes não. A pessoa tem a expectativa de aliviar uma grande dor interna, como tristeza, raiva, frustração, angústia. Mas não hesite em socorrer alguém que se feriu, pois, a profundidade e a forma como ocorreram os ferimentos podem sim o levar a morte.

Quem pratica automutilação quer chamar atenção? Não. Aliás a pessoa tenta esconder tal comportamento, por vergonha. Quem pratica autolesão, costuma usar blusas de manga longa, mesmo no calor, ou se ferem em lugares poucos visíveis, como coxas e barriga.

O que está por trás desse ato? Em geral, dificuldade de reconhecer e lidar com os sentimentos como raiva e decepção, conflitos de relacionamentos, impulsividade, baixa autoestima, bullying, transtornos de personalidade, dentre outros motivos. Os ferimentos na pele produzem uma espécie de analgésico para a dor psicológica; retirando a atenção do interno para o externo.

Automutilação pode ser praticada por influência? Algumas crianças ou adolescentes podem sim ter esse tipo de comportamento influenciados por “modismos”, mas logo param por ser um processo muito doloroso. Entretanto, os que permanecem com essa conduta indicam um sofrimento interno muito grande e utilizam esse “recurso” como forma de alívio interior. De qualquer forma, os pais devem sempre ficar de olho no comportamento dos filhos, principalmente no conteúdo que eles consomem na internet.

Somente crianças e adolescentes se automutilam? Não. É crescente o número de adultos que tem recorrido a autolesão como forma de “descarga emocional”. Entretanto, o maior número ainda se concentra na adolescência, por ser um período de maior desregulação e conflitos internos.

Como ajudar uma pessoa que se automutila? Antes de tudo, não a julgue. A pessoa já tem um sentimento de culpa muito grande, ofereça acolhimento, apoio e a oriente procurar profissionais capacitados da saúde, como psicólogo e psiquiatra, para tratamento adequado. E se possível, retire objetos cortantes do alcance delas. Esteja atento a toda mudança repentina de comportamento, como isolamento.

Se você convive com alguém que se automutila e não entende porque a pessoa não consegue parar de praticar tal ato, entenda que não é tão simples assim. A automutilação pode ser comparada a vícios, como o uso de drogas. Uma conversa ou conselho muitas vezes não basta, é preciso tratamento psicológico e para alguns casos, uso de medicações. Sei que é angustiante, mas tenha paciência e o mais importante, aja com amor; demonstre para essa pessoa o quanto ela é querida e que não precisa passar por esse momento sozinha.
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Sobre a autora:
Ingredy Stephany Damacena Cavalcante, psicóloga (CRP 09/11994) graduada pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (Brasil). Atende crianças, adolescentes e adultos, com ênfase no psicodrama.

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