Esse texto não é um ensaio
científico sobre economia e política, também não pretende apresentar fórmulas
mágicas ou instantâneas para a superação da crise atual. O objetivo é
contribuir com a construção de uma visão mais otimista, promovendo reflexões e
instigando discussões.
Ouvimos todos os dias nos
jornais há pelo menos dois anos: “o Brasil está em
crise”; “o mundo está em crise”; “o sistema capitalista está em crise”.
Esquecemos que o sistema capitalista foi desenvolvido por nossa sociedade
moderna e experimentamos como decorrências: o agravamento das injustiças
sociais; competição desenfreada; e o consumismo irracional. Temos a sensação de
que o sistema ganhou vida própria e não o controlamos mais, somos seus
escravos.
A palavra crise origina-se do
grego “krísis” possuindo dois significados principais: ruptura repentina do
equilíbrio; e transição. Ao longo da sua história a humanidade amargou inúmeras
turbulências, crises e guerras. Entretanto, observamos períodos críticos sendo
sucedidos por tempos de progresso, paz e prosperidade. Para isso, foi
necessário um árduo esforço, reconstruindo e mantendo aquilo que conquistamos.
Aprendemos grandes lições com os erros.
Percebemos que nunca evoluímos
de maneira linear, porém mudanças sempre assustaram. As transgressões, novos
padrões surgindo nos deixam escandalizados, tememos enfrentar o desconhecido,
pois isso exige sairmos da zona de conforto. É verdade, pagamos um preço por
todos os avanços, no entanto com o passar do tempo nos acostumamos e passamos a
encarar as novidades como naturais.
A nossa visão sobre o mundo é
muitas vezes superficial, fragmentada, descontextualizada e imediatista. Temos
dificuldades de ver além e facilmente nos revoltamos tentando encontrar
culpados. Sentimo-nos perdidos, desamparados, impotentes.
Reclamamos, e muitos de nós
odiamos nossos governantes. Sim, políticos tem sua parcela de responsabilidade
sobre a atual situação, temos o direito de cobrar e reivindicar, afinal nós os
elegemos, mas até quando podemos apenas esperar que políticos resolvam os
problemas do país? Qual nossa responsabilidade de cidadão?
A desesperança, a raiva são
reações naturais, porém cultivar esses sentimentos apenas gera um desgaste
emocional, é desperdício de energia. Necessitamos empreender ações para promover
as modificações desejadas.
Para agir de forma eficaz é essencial
conhecer. O autoconhecimento e o conhecimento do ambiente no qual habitamos são
importantes em todos os momentos da vida, e nos fortalecem para enfrentar
crises.
O autoconhecimento nos permite
analisar comportamentos e atuarmos sobre as causas dos mesmos. Ao nos
conhecermos, descobrimos o que mantêm os nossos hábitos mesmo quando esforçamos
para abandoná-los, percebemos também os ganhos ou perdas em cada escolha. Ao
avaliarmos como as consequências das ações passadas afetam nossas decisões hoje,
e de que modo nossa conduta presente terá impacto no futuro, nos sentimos mais
responsáveis e motivados.
Na chamada Era da Informação o
conhecimento é extremamente valorizado. Temos acesso diariamente a uma
avalanche de informações, é necessário filtramos, analisando a veracidade das
mesmas. Integramos as informações recebidas, ampliando a visão e traçando
estratégias para efetivar as mudanças?
Através das várias mídias
podemos pesquisar a carreira política de cada candidato, sabermos quais
projetos realizaram, se possuem a ficha limpa ou respondem a algum processo, e
questionarmos se as promessas são coerentes e possíveis de realização. Com
todos esses recursos refletimos como escolhemos os candidatos? Como está a
nossa consciência política?
Nós conhecemos realmente o nosso
bairro, cidade, associações, ONGs, instituições e movimentos sociais? Quais os
melhores instrumentos de reinvindicação (passeatas, abaixo-assinados, outros)? O trabalho voluntário/ assistencial pode
promover transformações sociais? Podemos participar dessas instituições/movimentos,
exercendo nossa cidadania? Pensamos e agimos coletivamente, apoiando outros e
recebendo apoio quando precisamos?
Em momentos críticos devemos
reavaliar ações para não ficarmos estagnados, nos adaptando às mudanças,
focando nas possibilidades de aprendizado e crescimento. Ainda mais, quando
diversos meios de comunicação bombardeiam com notícias extremamente negativas.
Diante de perspectivas
pessimistas, tememos o desemprego, dívidas, dificuldades financeiras, pois não
há garantias de estabilidade no emprego. Entretanto, há algumas ferramentas extremamente
úteis, seja para aumentar a chance da permanência no emprego ou para
recolocação profissional.
Antes de tudo, precisamos
refletir sobre a forma como lidamos com o trabalho. Escolhemos o trabalho ou 'somos
escolhidos por ele'? Os valores da empresa e os nossos são compatíveis? Ficamos em um emprego por não termos outro melhor? Encontramos realização
profissional/pessoal ou apenas a sensação de 'estabilidade'?
Estando empregados ou não, é
importante planejarmos nossas carreiras, investindo constantemente em
qualificação profissional, conhecendo bem a área de atuação - incluindo seus
desafios/atualidades - por meio de cursos, palestras, eventos (muitos deles
gratuitos), livros e sites. Também é fundamental cuidar da imagem profissional,
mantendo bons relacionamentos com os fornecedores, clientes, colegas, criando
redes de contato (networking) para
sermos vistos e reconhecidos, observar as oportunidades do mercado de trabalho (meios
de divulgação de vagas/currículos).
Independentemente se as finanças
pessoais estão equilibradas é interessante analisarmos como lidamos com o
dinheiro e consumo. Fazemos um planejamento financeiro em longo prazo,
economizamos ou gastamos compulsivamente? Verificamos os produtos que já possuímos
antes de comprarmos outros, evitando desperdícios? É possível escolher produtos
saudáveis, sustentáveis, fortalecendo pequenas cadeias produtivas e
contribuindo para recuperar a economia do nosso país?
São muitas perguntas e respostas
prontas não existem, cabendo a cada um trilhar caminhos para encontrá-las. Podemos
ao final dessas reflexões nos depararmos com novas perguntas, mas como dizem, as
perguntas movem o mundo.
Saibamos nos manter ativos e não
sermos conformistas, nem pessimistas. Precisamos buscar razões para acreditar focando
nos aspectos positivos da nossa realidade sem criar ideais. Mesmo nesses
momentos de crise podemos encontrar oportunidades de crescer e assim
recuperamos a esperança no futuro, ficando mais fortalecidos e mais assertivos
ao lidar com as adversidades.
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Sobre
a autora:
Maria
Aparecida de Souza Araújo (CRP 09/9382)
Psicóloga Graduada pela Universidade
Federal de Goiás (UFG). Já atuou na área de Gestão de Pessoas em empresas
privadas. Ministra palestras sobre diversos temas da atualidade. Psicoterapeuta
de base humanista-fenomenológica.
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