Estar preparado para a própria morte é
algo bem diferente de estar preparado para a morte de alguém importante para
você. Na maioria dos casos quando se questiona sobre morrer ou perder alguém
importante a resposta imediata será a própria morte. Sendo assim teoricamente
estar preparado para perder alguém também não irá diminuir a intensidade da dor
de uma perda, e a realidade é que grande parte das pessoas fogem dessa dor.
Em pleno século XXI o assunto sobre
morte ainda não é muito conversado e falar a respeito direciona a pessoa a entrar
em contato com aquilo que está priorizando em sua vida e também contribui para refletir
sobre o modo que está vivendo e se relacionado com as pessoas.
A perda pode se apresentar de muitas
formas, que vão da negação ao sentimento de raiva da pessoa morta. Para
compreender esses sentimentos é interessante citar Kübler-Ross (2004, p. 70)
que escreveu: “se você verdadeiramente quer aprender e crescer, é preciso
compreender que o universo o matriculou no programa de pós-graduação da vida,
que se chama perda”.
Além disso, a perda é uma
característica fixa da vida humana, ou seja, acontece continuamente. A primeira
e mais dolorosa separação é o nascimento e a ultima é a morte. A primeira é
proporcional a expulsão do paraíso, afinal, a criança estava em um universo
seguro, confortável e, de repente, é atirada ao mundo. A segunda é grande parte
indicada como a superior a todas as perdas e também a que produz maior medo por
ser algo irreversível e não se pode ser evitado.
Quando alguém morre acontece o
processo de luto, que é um pesar pela perda de alguém que muito significou em
sua vida, e a intensidade desse sofrimento dependerá da formação de apego ou da
ligação afetiva que foi constituída com essa pessoa.
Desta forma quando se vivencia perdas,
entramos em movimento de luto, podendo até as menores perdas ter enorme
consequências em nossa vida. Todas as perdas são dolorosas, mas algumas abalam
mais do que outras e em casos de grandes perdas, as pessoas podem levar um
tempo maior para se restabelecer.
O sofrimento é uma reação normal à perda
de uma figura de vínculo, porém nem todas as perdas provocam o luto, pois este
exige um vínculo afetivo, o que quer dizer que o nível de sofrimento dependerá
do tipo de relação que possuíam e também do significado que aquela pessoa
representava em sua vida.
Demonstrações de luto incomodam e
indagam uma civilização que superestima o que está relacionado à felicidade.
Nessa circunstância, um dos fatores mais cruciais é aceitar e consentir com as
manifestações da dor. Contudo no sentido comum do luto, as pessoas enlutadas
inclinam a oscilar entre dois tipos de orientação: a “orientação para a perda”
e “orientação para a restauração”. A primeira refere-se a busca torturante pela
pessoa perdida. A “orientação para restauração” é a luta para se reorientar em
um mundo que parece ter se distanciando de seu significado.
Você pode se perguntar então qual
dessas orientações é a mais saudável? O beneficio terá mais facilidade de ser
encontrado se houver o processo de oscilação e equilíbrio entre a orientação
para perda e para restauração. Gradativamente a pessoa enlutada perceberá que
muito do passado do relacionamento que viveu com aquela pessoa que morreu,
poderá continuar a ter significado em um planejamento do futuro.
O que não será saudável e favorecerá problemas
é se um dos focos se transformar em algo exclusivo. Portanto, pessoas que se
envolvem apenas com o esforço em buscar aquilo que já se foi e são incapazes ou
não desejam olhar para frente tornam-se enlutados crônicos, enquanto as que
evitam o sofrimento da perda e se dedicam a orientações sobre o futuro tendem a
sofrer as consequências de um luto adiado ou inibido.
O luto crônico acontece quando as
reações da perda são prolongadas e o luto inibido ou tardio consiste em reações
que se apresentam mais tarde, pois a pessoa aparenta viver normalmente após a
perda. Existem cinco fases do luto segundo a psiquiatra Elisabeth Kubler-Ross
as quais são:
1- Negação: acontece quando o sistema
psíquico da pessoa reage a realidade negando o que está acontecendo, ou seja, a
pessoa não consegue lidar com a realidade da perda. Exemplo: a pessoa evitar
falar a respeito do conteúdo.
2- Raiva: geralmente a pessoa se sente
injustiçado e se revolta. Exemplo: porque ele tinha que morrer? Ou porque você
me deixou?
3- Barganha: essa fase consiste na permuta
consigo mesmo e até com Deus. Exemplo: se sair da situação atual será uma
pessoa mais gentil e melhor.
4- Depressão: aqui o indivíduo já começa a
ter um contato melhor com a realidade, porém investe toda sua energia para se
afastar da sociedade. O sentimento de pesar, tristeza e desânimo prevalece.
5- Aceitação: essa é a última fase do
luto. A pessoa aceita que não tem como mudar a situação real e muda sua
perspectiva para o preenchimento do vazio que agora existe. Quem se encontra
nessa fase consegue compreender com mais facilidade a realidade e fazer novos
planos seguindo com as lembranças que foram deixadas. A aceitação não dispensa
o sentimento de perda, porém contribui para que o indivíduo consiga prosseguir
com sua vida mais saudavelmente.
É indispensável ressaltar que não
necessariamente a pessoa ira passar por toda a sequência das fases do luto,
porem é comum que as pessoas que passam por esse processo apresentem pelo menos
dois desses estágios. E em alguns casos pode acontecer do indivíduo paralisar
em uma das fases acima.
O enfrentamento da perda pode acontecer
de várias maneiras de acordo com o suporte que o enlutado possui como rede de
apoio familiar e social, mas em alguns casos as dificuldades são maiores e se
faz necessário a busca de ajuda profissional. De acordo com estudos o
acompanhamento do psicólogo no processo de luto contribui positivamente e
facilita o processo de expressão do sofrimento, ressignificação da perda e o
enfrentamento da situação.
Um dos motivos de se buscar ajuda
profissional está no estresse da perda que na maioria das vezes produz uma
visão distorcida da realidade com a presença de sintomas como culpa, medo,
insônia, ansiedade, tristeza, falta de apetite, falta de concentração,
pensamentos intrusivos e persistentes. Se você conhece ou ate mesmo se
identifica com uma pessoa que tem dificuldades para lidar com a perda ou luto,
o acompanhamento profissional como já mencionado poderá proporcionar um
acolhimento adequado, escuta sensível, compreensão do seu contexto pessoal,
cultural, emocional, cognitivo e também intervenções eficientes que visam
encontrar a maneira saudável de viver sem aquela pessoa e a coexistir com a
saudade.
Referências Bibliográficas
KÜBLER-ROSS, E. O túnel e a luz:
reflexões essenciais sobre a vida e a morte. Campinas: Veruz, 2003.
PARKES, Colin Murray. Amor e perda: as
raízes do luto e suas complicações. São Paulo: Summus, 2009.
SOARES,Edirrah & MAUTONI, Maria .
Conversando sobre o luto. São Paulo: Ágora, 2013.
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Sobre a autora:
Samara Sátila Batista de Araújo, psicóloga (CRP 09/01245) graduada pela
Universidade salgado de Oliveira de Goiás (Brasil) atua com ênfase na clínica
em Gestalt-terapia atendendo adolescentes, adultos e idosos.
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