A mulher no núcleo financeiro do lar



Estamos vivendo um momento de mudanças socioculturais, onde homens e mulheres ampliam seus papéis na sociedade. As mulheres vêm buscando colocação no mercado de trabalho,desenvolvimento profissional e condições financeiras mais satisfatórias. Essas mudanças são fatores significativos nos relacionamentos conjugais. “O crescimento de mulheres que comandam os lares pode ser explicado principalmente por duas razões. Por um lado, a alta ‘parece indicar mudanças no padrão de comportamento social, demonstrando maior aceitação de modelos menos tradicionais’ diz o Ipea. Além disso, o resultado pode apontar “uma mudança de auto percepção das mulheres em relação à sua posição dentro da família.” (Taiar, 2017).

Será que essas mudanças, onde à mulher tem melhores condições financeiras que o homem interfere na dinâmica do casal? Como os esposos estão lidando com isso, visto que há tempos o homem era o único provedor do lar?

Essas condições significativas em termos de finanças do casal podem gerar impacto negativo na estabilidade conjugal. Mas isso não quer dizer que haja sempre impacto negativo na relação. Na prática esse é mais um desafio geralmente adaptável, entretanto, o fato da mulher ganhar mais que o esposo pode ocasionar críticas e conflitos por parte das famílias, mas isso vai depender muito da cultura familiar de ambos. Quando o casal permite que a família assuma influência na relação, mesmo que seja apenas por manifestações de opinião é provável que surjam conflitos. É comum famílias acharem que o marido, que ganha menos, está assumindo um posição mal-intencionada. Cabe ao casal construir uma relação com laços seguros, com confiança mútua e com percepções claras em relação aos valores da família de origem. Da parte do homem, também pode haver críticas sociais ao fato de estar sendo sustentado por uma mulher.

É importante entender que o modelo da família tradicional tempo atrás implicava na divisão clara de papéis, em que geralmente o homem se envolvia com trabalhos remunerados, enquanto a mulher dedicava-se aos afazeres domésticos, incluindo os cuidados com os filhos.Porém essa realidade passa a não ser tão comum em nossos tempos. Atualmente o número de mulheres que está no mercado de trabalho e contribui com a renda familiar é muito grande, é uma dupla jornada, onde muitas mulheres, além da maternidade, estão correndo atrás das suas realizações acadêmicas e valorizando a construção de uma carreira profissional.

Conforme pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os casais que têm filhos, o número de mulheres provedoras do lar subiu de 3,4% para 18,4% e 2011, e os que não têm filhos passou de 4,5% para 18,3% no mesmo período. A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) indica que 37,4% das famílias tem como referência a mulher.

Estudos têm mostrado como o papel assumido pela mulher tem repercutido no processo familiar, tanto nas questões conjugais quanto na educação dos filhos. (Bertolini, 2001; Garcia, 2001; Preston, Rose, Norcliffe e Holmes, 2000; Arrighi & Maume, 2000). Sendo assim, um dos aspectos mais desafiantes para essas mulheres é a conciliação das funções familiares com as atividades acadêmicas e profissionais. É importante ressaltar também que não são só as mulheres que vem ampliando seus papéis. Atualmente muitos pais se dedicam na à educação dos filhos e nas atividades rotineiras da casa, e é esse equilíbrio que torna a relação saudável, onde ambos os parceiros possuem vários papéis e contribuem para o desenvolvimento conjugal. 

Essa condição pode ser uma fase repentina da vida do casal como também uma opção de organização dos papeis dessa relação familiar duradoura. É importante destacar que essa estrutura (marido cuidando da casa e mulher provedora), não é uma regra e não são apenas estas mudanças que vêm afetando os relacionamentos conjugais nos tempos atuais.

Referências

Bertolini, L. B. A. (2001). Relações entre o trabalho da mulhere a dinâmica familiar. Anais do I Congresso de Psicologia Clínica. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Fleck, A. C, Wagner, A. (2003) A mulher como a principal provedora do sustento econômico familiar. Psicologia em Estudo, Maringá, 8 (num. esp.), p. 31-38.

Taiar, E. (2017). Número de lares chefiados por mulheres sobre de 23% para 40% em 20 anos. Disponível em: www.valor.com .br

Pergher. N, K. (2010) Variáveis que devem ser consideradas na avaliação da qualidade do relacionamento conjugal. Revista Perpectivas, 1(2), pp. 116-129.

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      Sobre a autora:
     Mylena Moreira Melo (CRP 09/11177)
Psicóloga graduada pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (Brasil), com ênfase em psicoterapia comportamental, possui experiência no atendimento infanto-juvenil e adulto. Pós-graduanda em Psicoterapia Analítico-Comportamental pelo Instituto Goiano de Análise do Comportamento (IGAC) (Brasil) e em Psicologia do Trânsito pela Faculdade Unyleya (Brasil). Psicóloga Clínica do Instituto Psicologia Goiânia.

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