Esse é um problema para a nova
geração de psicólogos, ouvir a famosa frase: "nossa, você é tão novo(a),
não pode ser psicólogo", ou então "como você vai me ajudar a resolver
meus problemas se nem idade tem para entender isso"... Ser psicólogo antes
dos 30 anos pode ser um grande pesadelo, principalmente com o fato de que o brasileiro está entrando cada vez mais jovem na universidade (entre 16 e 17 anos), e você pode enfrentar problemas relativos à sua idade a não ser que você entenda alguns
pontos, e saiba demonstrá-los aos seus clientes.
O primeiro deles é a diferença entre Cronos e Kairós - ambas as palavras advém do grego e são
utilizadas para significar o tempo, mas a primeira diz sobre o tempo físico,
aquele que é contado através de segundos, minutos, horas, e o segundo quer
dizer sobre o tempo psíquico, que diz sobre a forma como você aproveita e
experiência o primeiro tempo. Como assim? Explico: já viu aquela pessoa que com
o passar dos anos foi ficando cada vez mais ranzinza, rabujenta e antissocial?
Ela desmistifica totalmente o pensamento que "quanto mais velha a pessoa,
mais sábia"... Existem pessoas que sabem viver um minuto com muito mais
intensidade do que outras vivem o mês ou o ano... ou seja, a idade pode te
tornar mais sábio, ou mais tolo, depende de como você a vive.
Isso serve também para ilustrar o
segundo ponto: a autoridade para se
fazer alguma coisa pode advir tanto da experiência (que não se expressa
necessariamente pela quantidade de dias que você já viveu), quanto pelo saber! Quem nunca passou
por uma consulta médica com um jovem e com um mais idoso, e que o primeiro
sabia muito mais do que o segundo? Isso porque, provavelmente, o primeiro
estudou muito mais em seu curto período profissional do que o segundo na vida
inteira, e que não adianta ter "pegado mais casos" se você não tinha
a menor ideia do que estava fazendo. Logo, você pode ser um jovem psicólogo e
ter um aparato teórico e conceitual muito melhor estabelecido do que muitos
decanos da psicologia.
E isso me leva ao terceiro ponto,
e daqui eu tentarei ser um pouco kantiano: existem saberes que advém da
experiência, ou seja, são conhecimentos
a posteriori, mas também existem
conhecimentos que advém de uma forma de organização da percepção, que não
dependem, necessariamente da experiência. Hã? Como assim, Murillo? Um exemplo é
quando você enfia o dedo na tomada e com esta experiência descobre que ela dá
choque, isso é um conhecimento a posteriori;
mas o seu amigo, Zé, te viu levar um choque, e mesmo sem precisar colocar o
dedo lá, sabe que isto é uma experiência ruim, isso é um conhecimento a priori.
O Zé conseguiu interpretar suas caretas, gritos e contorções ao enfiar o dedo
na tomada como uma experiência negativa, e o fez entender que ele não queria
fazê-la, isso é um conhecimento a priori. Ou seja, se você consegue
captar a lógica pela qual determinados fenômenos ocorrem e o encadeamento de
seu processo, você consegue mostrar que o que você faz não depende de você ter
vivido ou não o que a pessoa está passando.
A primeira vez que me deparei com
a frase "mas você é tão novinho, como vai poder me ajudar se nunca viveu o
que eu estou passando", eu respondi com uma indagação: "você acha que
um oncologista (médico que cuida de problemas relacionados a câncer) precisou
ter todos os tipos de câncer dos seus pacientes para poder tratá-los?", e
isso foi mais do que suficiente para fazer com que a pessoa entendesse que não
se trata de ter vivido o mesmo que ela, mas de ter condições técnicas de
compreender a lógica e a dinâmica de sua situação e comportamento. Eu
geralmente falo que "ao vir para a terapia nós iremos tratar das suas
questões à luz da lógica, da filosofia e da ciência, caso contrário isso aqui
vira papo de compadres, e eu não estou aqui para te dar nenhum tipo de
conselho, mas para te ajudar a compreender como você chegou até aqui e quais
são as possibilidades de sair"... isso é suficiente!
Desta forma, algumas
"dicas" para os psicólogos iniciantes são bem válidas: cuide de sua
aparência (sim, as pessoas te julgam pela forma como você se veste e se
apresenta), seja discreto, parcimonioso, e tenha cuidado com a sua ansiedade
(sim colega, você é psicólogo e também tem muito deste vermezinho,
principalmente na hora de se expressar em alguns meios), e se lembre que as
pessoas vão te julgar de qualquer maneira, esteja você correto ou não, então
tente buscar o equilíbrio entre a autenticidade e um bom convívio social, desta
forma você tem boas chances de, mesmo sendo um psicólogo com cara de
"fedelho", inspirar respeito e autoridade por onde passar. That's it!
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Imagem: Extraída do Google Imagens
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Sobre o autor:
Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) graduado
pela PUC Goiás (Brasil), com formação em Terapia de Casais e Famílias pela
Universidad Católica del Norte (Chile). Mestre em Psicologia pela Universidade
Federal de Goiás (Brasil). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown
University (EUA) e Fundación Botín (Espanha). Já estudou gestão e
empreendedorismo pela Finnovarregio Fondattion e pelo Parlamento Europeu
(Bélgica), pela Fundação Getúlio Vargas e pela Fundação Estudar (Brasil), e atualmente
está se preparando para fazer formação em gestão na Harvard University (EUA) em
parceria com a Universidad Autónoma de Madrid (Espanha).
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